Em um cenário econômico marcado por incertezas e oportunidades, o mercado de fusões e aquisições (F&A) assume um papel central para as empresas que buscam expansão e fortalecimento. Com 1.087 operações registradas até setembro de 2025, o Brasil lidera a América Latina em número de transações, consolidando seu protagonismo em um jogo onde ambição e estratégia andam lado a lado.
Esse universo dinâmico reflete não apenas mudanças em estruturas societárias, mas também a busca por sinergias financeiras e operacionais que permitam ganhos de escala e inovação. À medida que juros permanecem elevados e o ambiente de IPOs torna-se menos atrativo, o F&A se destaca como rota preferencial para consolidar setores fragmentados e expandir fronteiras.
Para executivos, investidores e empreendedores, compreender as tendências, riscos e fatores que influenciam esse mercado é fundamental. Este artigo apresenta um panorama detalhado, cases emblemáticos, análises de fatores econômicos e regulatórios, além de perspectivas para os próximos anos, oferecendo insights para navegar com segurança e eficiência neste jogo dos gigantes corporativos.
Panorama e Estatísticas Gerais
O volume de transações no Brasil alcançou 1.087 operações até setembro de 2025, recuando 19% em relação ao mesmo período de 2024, mas mantendo-se acima de ciclos anteriores. A estimativa é chegar a 1.400 operações até dezembro, reforçando a robustez do mercado local. Em termos de valor, foram movimentados aproximadamente R$ 146 bilhões no primeiro semestre de 2025, mostrando que negócios de grande porte continuam impulsionados por players estratégicos e fundos de investimento.
Ao analisar uma janela de 30 anos (1995-2025), o país contabilizou 22.257 transações, com crescimento anual composto (CAGR) de 8%. Isso demonstra uma trajetória consistente de maturação das estruturas de governança e de regulação. Em comparação, mercados globais exibem retrações médias de 9% no mesmo período, o que destaca o potencial do Brasil para atrair negócios de alcance internacional.
- 1.087 operações registradas até setembro de 2025.
- R$ 146 bilhões movimentados no primeiro semestre.
- 22.257 transações acumuladas em três décadas.
Esses números reforçam a importância de planejar cuidadosamente cada etapa, desde a due diligence até a elaboração de estruturas financeiras inovadoras que mitiguem riscos e maximizem resultados.
Setores em Destaque
O perfil setorial das fusões e aquisições revela áreas em que a concorrência favorece consolidações e onde há espaço para inovação. O setor de tecnologia lidera, respondendo por 33% das operações em 2025, em grande parte catalisado por startups que oferecem soluções de digitalização e automação. Em seguida, consumo e varejo (15%) buscam escala para competir em preços e logística, enquanto o setor financeiro (6,4%) atrai fusões entre bancos tradicionais e fintechs.
Os segmentos de entretenimento (6,1%) e infraestrutura também ganham relevância, com fusões entre empresas de energia elétrica e de transmissão, refletindo a necessidade de investimento em capacidade instalada. No agro, óleo e gás, observam-se movimentos de consolidação voltados à eficiência operacional e ao acesso a novos mercados internacionais.
Entender essas nuances setoriais é fundamental para identificar oportunidades e evitar armadilhas decorrentes de expectativas desalinhadas entre compradores e vendedores.
Natureza das Transações
O perfil de origem do capital nas operações de 2025 revela que 81% (884 transações) foram conduzidas por compradores nacionais, enquanto 19% (203 transações) envolveram capital estrangeiro, o menor índice desde 2018. Essa tendência está relacionada à maior estabilidade econômica interna e às quedas acentuadas nas taxas de juros, que tornam o mercado brasileiro mais atrativo e acessível aos players locais.
Os Estados Unidos lideram a vice-líderança entre investidores estrangeiros, com 70 operações, seguidos por França (14) e Reino Unido (10). A presença chinesa diminuiu, reflexo de tensões geopolíticas e políticas internas mais restritivas.
- Compradores estratégicos lideram com 877 transações;
- Fundos de private equity participam de 210 negócios;
- Transações entre PMEs ganham força diante de dificuldade de acesso a capital convencional.
Para as pequenas e médias empresas, essa dinâmica representa uma rota de crescimento e sobrevivência, permitindo acesso a novas tecnologias e mercados por meio de alianças estratégicas.
Grandes Movimentos Corporativos
O ano de 2025 foi marcado por operações que redesenharam setores inteiros e influenciaram a agenda econômica do país. A fusão entre BRF e Marfrig, resultando na MBRF, colocou no mercado uma companhia com posição de liderança global, Ebitda recorde e lucro líquido de quase R$ 100 milhões apenas no terceiro trimestre.
Outro exemplo emblemático foi a união entre Auren e AES Brasil, consolidando um player com atuação abrangente nos setores de geração e distribuição de energia, sustentada por emissão de R$ 5,4 bilhões em debêntures. Esses movimentos demonstram como grandes corporações utilizam fusões para conquistar escala e maximizar eficiência em setores de alta intensidade de capital.
- BRF + Marfrig → MBRF: companhia entre as 10 maiores do país;
- Auren + AES Brasil: operação viabilizada por debêntures de R$ 5,4 bilhões.
Executivos envolvidos destacam a importância de planejamento meticuloso e governança rigorosa para garantir que promessas de sinergias se convertam em resultados efetivos.
Fatores Econômicos e Regulatórios
O ambiente macroeconômico e o arcabouço regulatório exercem influência direta no ritmo e na viabilidade das operações de F&A. As taxas de juros elevadas criam um ambiente restritivo para IPOs, direcionando empresas a buscar fusões como mecanismo de captação e crescimento. Simultaneamente, mudanças no IOF e políticas tarifárias internacionais, como o “tarifaço Trump”, elevam o custo de transações internacionais e desestimulam o capital estrangeiro.
A instabilidade jurídica e a interpretação variável de regras tributárias representam riscos consideráveis. Empresas relatam que custos inesperados podem consumir até 15% do valor projetado de uma transação, impactando diretamente o retorno ao investidor.
Motivações e Desafios nas Fusões
As motivações para fusões e aquisições são múltiplas, indo desde busca por sinergias até necessidade de adaptação a novos modelos de negócio:
- Ganhos de escala e redução de custos operacionais;
- Expansão geográfica e acesso a novos mercados;
- Inovação, digitalização e reinvenção de portfólio.
No entanto, a execução envolve desafios significativos. Estudos indicam que até 60% das fusões fracassam em entregar os resultados esperados devido a falhas na integração cultural e operacional, gestão inadequada de talentos e subestimação de riscos financeiros.
Para mitigar essas armadilhas, recomenda-se:
Adotar planos de integração sólidos que incluam estratégias de comunicação, acompanhamento de indicadores de desempenho e gestão de mudanças. Além disso, é crucial definir governança corporativa clara e eficiente e manter flexibilidade para ajustes conforme o projeto evolui.
Perspectivas Futuras e Impactos Socioeconômicos
Olhando adiante, espera-se que os setores de energia renovável, infraestrutura de transporte e tecnologia sigam na vanguarda das operações de F&A. Empresas digitais com baixo CAPEX devem atrair investimentos vultosos, impulsionadas por demandas por automação, análise de dados e soluções na nuvem.
No âmbito socioeconômico, a consolidação corporativa pode gerar efeitos positivos, como aumento de eficiência, maiores investimentos em inovação e geração de empregos especializados. Por outro lado, existe o risco de concentração de mercado, que pode levar ao aumento de preços e à redução de opções de escolha para consumidores e pequenos fornecedores.
Para 2026, recomenda-se que empresas e investidores foquem em:
Realizar due diligence abrangente e aprofundada, avaliação criteriosa de riscos regulatórios e elaboração de planos de desinvestimento flexíveis e ágeis que permitam realinhar portfólios sem comprometer a saúde financeira.
Em síntese, as fusões e aquisições continuam sendo um instrumento poderoso para moldar a economia do futuro. Com visão estratégica, governança forte e execução disciplinada, é possível transformar desafios em oportunidades e prosperar no jogo dos gigantes corporativos.