O Futuro do Dinheiro: Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs)

O Futuro do Dinheiro: Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs)

Vivemos uma era de transformações profundas no sistema financeiro global, na qual a forma como pensamos e utilizamos o dinheiro está prestes a passar por um salto evolutivo. As CBDCs surgem como protagonistas dessa mudança, prometendo maior eficiência, inclusão e segurança para indivíduos e empresas.

Definição e Conceito de CBDCs

As Central Bank Digital Currencies (CBDCs) são versões digitais das moedas emitidas pelos bancos centrais, com valor idêntico às notas e moedas tradicionais. Ao contrário das criptomoedas privadas, que dependem de redes descentralizadas e flutuações de mercado, as CBDCs são resguardadas pela autoridade monetária e mantêm estabilidade de valor.

Essas moedas digitais podem ser usadas para pagamentos, transferências, investimentos e até execução de contratos inteligentes, abrindo caminho para a próxima geração de serviços financeiros.

O Caso Brasileiro: O Projeto Drex

O Banco Central do Brasil (BCB) iniciou, em 2021, o ambicioso projeto Drex, inicialmente denominado "real digital". A proposta era modernizar o sistema financeiro, reduzir custos operacionais e democratizar o acesso a serviços financeiros em todo o país.

O Drex não se limitava a ser uma moeda digital, mas também uma plataforma capaz de viabilizar inovações como pagamentos instantâneos, investimentos automáticos e contratos inteligentes para compra de imóveis ou automóveis.

Tecnologia por Trás do Drex

Baseado em Distributed Ledger Technology (DLT), semelhante ao blockchain, o Drex utilizava redes distribuídas para tokenizar ativos e registrar cada transação de forma imutável. Essa arquitetura garantia transações seguras, rastreáveis e criptografadas, minimizando riscos de fraude e proporcionando maior transparência ao sistema.

O uso de criptografia avançada e validadores autorizados permitia ao BCB controlar a emissão e circulação do real digital, sem depender de intermediários não regulados.

Funcionamento e Aplicações

Para operar com o Drex, o cidadão recorria a um intermediário financeiro autorizado, como bancos e fintechs, que coordenavam a conversão de saldos da conta corrente para a carteira digital Drex. As transferências entre usuários eram instantâneas, sem taxas de interbancárias e com confirmação imediata.

Além de pagamentos, o Drex permitiria a liquidação de operações de crédito e contratos inteligentes, abrindo caminho para novos modelos de negócio automatizados e mais sustentáveis.

Fases do Projeto e Desistência da CBDC

O avanço do Drex seguiu um cronograma bem estruturado:

No entanto, em novembro de 2025, após quatro anos de desenvolvimento e estudos, o BCB anunciou que a tecnologia por trás do Drex se revelou inviável para emissão de uma CBDC. O presidente Gabriel Galípolo afirmou: “A tecnologia não se revelou viável e existem hoje outras maneiras de atingir o que queremos.”

Mudança de Direção: Plataforma de Serviços

Diante desse cenário, o Banco Central decidiu transformar o Drex em uma plataforma de serviços financeiros digitais, desvinculada da emissão de moeda própria. O novo foco é criar uma infraestrutura para contratos inteligentes e liquidação automática de operações, viabilizando liquidações quase instantâneas e redução de riscos em operações complexas.

Assim, o Drex passa a ser uma base tecnológica para bancos, fintechs e empresas, sem assumir o papel de moeda digital estatal.

Legislação e Debates no Senado

A implementação de qualquer CBDC ou solução derivada depende de autorização legislativa. Em 2023, o senador Oriovisto Guimarães apresentou emenda à PEC 65/2023, ampliando o mandato do BC para criação de novos instrumentos financeiros, incluindo contratos inteligentes.

Em julho de 2024, a Comissão de Comunicação e Direito Digital (CCDD) realizou audiência pública com representantes do Banco Central, Ministério da Fazenda, bancos e especialistas em privacidade e regulação. O debate girou em torno da necessidade de atualização da legislação para novos modelos financeiros, preservação do sigilo bancário e segurança jurídica.

Regulamentação do Mercado de Criptoativos

Paralelamente ao Drex, o BCB reforçou o arcabouço regulatório para criptoativos. Em novembro de 2025, três resoluções definiram requisitos para sociedades prestadoras de serviços de ativos virtuais, estabelecendo normas sobre câmbio, crédito externo e proibição de stablecoins algorítmicas.

Essas regras entram em vigor em 2 de fevereiro de 2026, com prazo de transição até novembro do mesmo ano para empresas já atuantes. A medida visa ampliar a proteção ao consumidor, prevenir lavagem de dinheiro e padronizar o mercado.

Impacto e Perspectivas Futuras

Embora o Drex não tenha se materializado como CBDC, seu desenvolvimento impulsionou o Brasil para a vanguarda das discussões sobre moedas digitais e redução de custos e democratização financeira. A ênfase atual está na integração do mercado cripto à economia real, equilibrando inovação e regulação.

Globalmente, países como China, Suécia e Bahrein já avançaram com pilotos de CBDCs, explorando diferentes modelos de privacidade e interoperabilidade. O Brasil, com seu aparelho regulatório sólido, está bem posicionado para acompanhar essa evolução.

Conclusão

O futuro das finanças será marcado pela convergência entre tecnologias digitais e estruturas regulatórias robustas. Embora o Drex tenha recuado na emissão de moeda digital, seu legado permanece no avanço de plataformas financeiras modernas e no amadurecimento do debate público sobre o dinheiro do amanhã.

Em um cenário de constantes inovações, a combinação de velocidade, segurança e inclusão será o ponto de encontro entre o dinheiro físico e seu reflexo digital.

Por Maryella Faratro

Maryella Faratro